terça-feira, 21 de julho de 2015

Engula o papel
A meninada internada é um desafio à paciência e à autoridade. E quando eles colocam apelidos? E como colam... No salão de estudos o professor assistente viu um menino passar um bilhete para um colega. Desceu de seu pedestal e requisitou o bilhete. Os meninos ficaram apavorados. O conteúdo escrito falava do assistente, chamando-o pelo seu apelido Fedegoso e dizendo que ele estava bravo. Parecia que tudo voltara ao normal. Mas os dois garotos estavam com a pulga atrás da orelha, conheciam o professor e tinham certeza que aquilo acabaria mal. Como, não imaginavam a noite, feita a higiene todos foram para suas camas. Quando a turma adormeceu o professor acordou o escritor do bilhete e o levou ao lavatório. Puxou do bolso o fatídico bilhete e em seguida entregou ao menino dizendo: Engula isso. O garoto começou a chorar. Como vou comer papel? Se vire, é coisa sua. Para facilitar, molhe o papel que fica mais fácil. Não deu outra, o réu teve que obedecer e engolir.
Assisti à cena e fiquei abismado com a ação do colega. Coisas assim fazem do internato uma prisão e dos educadores chefes de penitenciária. O gênio do colega era esquisito. Caladão e de poucas palavras. Mas eu me pergunto se o posto de superior não deve combinar com a estima e compreensão dos educandos, inda mais como um discípulo de Dom Bosco.

Contos de Paulo Motta
Livro: Memórias de um seminarista

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