Envelhecendo junto ao mar
A Vilma produziu uma linda
inutilidade: um livro com o título Envelhecendo junto ao mar. Uma
delícia! Uma experiência de poesia e comunhão! Eu acho que, na velhice, cada
coisa que se diz é uma oração.
Oração é qualquer palavra que
brota do mais fundo dos nossos desejos. Na velhice, saímos à cata das palavras
essenciais. Por isso nos voltamos para os poetas. A Vilma catou muitas...
Aliás, uma das coisas que se faz junto ao mar, nas praias, é catar conchinhas.
Cada poema é uma concha, como essa oração de Gabriela Mistral:“Dai-me Senhor, a perseverança das ondas do mar que
fazem de cada recuo um ponto de partida para um novo avanço”.
Velhice é quando o rio se prepara
para converter-se em mar. O
mar é o destino de todo rio. Ouvindo o barulho das ondas que vemos, ouvimos o
barulho de ondas que não vemos... Fernando Pessoa ouvia o mar. Leia devagar. E
leia de novo.
Que costa é que as ondas contam
e se não podem encontrar
Por mais naus que haja no mar?
O que é que as ondas encontram
e nunca se vê surgindo?
Este som de o mar praiar,
onde é que está existindo?
Eu e o mar somos um.
Autor: Rubem Alves
Livro: Um céu numa flor silvestre
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