terça-feira, 19 de agosto de 2014



Envelhecendo junto ao mar

A Vilma produziu uma linda inutilidade: um livro com o título Envelhecendo junto ao mar. Uma delícia! Uma experiência de poesia e comunhão! Eu acho que, na velhice, cada coisa que se diz é uma oração.
Oração é qualquer palavra que brota do mais fundo dos nossos desejos. Na velhice, saímos à cata das palavras essenciais. Por isso nos voltamos para os poetas. A Vilma catou muitas... Aliás, uma das coisas que se faz junto ao mar, nas praias, é catar conchinhas. Cada poema é uma concha, como essa oração de Gabriela Mistral:“Dai-me   Senhor, a perseverança das ondas do mar que fazem de cada recuo um ponto de partida para um novo avanço”.
Velhice é quando o rio se prepara para converter-se em mar. O mar é o destino de todo rio. Ouvindo o barulho das ondas que vemos, ouvimos o barulho de ondas que não vemos... Fernando Pessoa ouvia o mar. Leia devagar. E leia de novo.

Que costa é que as ondas contam
e se não podem encontrar
Por mais naus que haja no mar?
O que é que as ondas encontram
e nunca se vê surgindo?
Este som de o mar praiar,
onde é que está existindo?

Eu e o mar somos um.

Autor: Rubem Alves
Livro: Um céu numa flor silvestre

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