quarta-feira, 27 de agosto de 2014



Para que servem os sonhos?

Para C.G. Jung os sonhos e a dedicação a eles encontravam-se no centro de seu estudo em confronto com o inconsciente e também no centro da psicoterapia: “[...] todos os problemas que me preocupavam humana ou cientificamente foram antecipados ou acompanhados por sonhos [...]”. Essa experiência, ou pelo menos a expectativa que assim seja, parece valer ainda atualmente para a maioria dos e das analistas da escola junguiana.
Em seu ensaio Os objetivos da psicoterapia Jung escreve: “Aproximadamente um terço dos meus clientes nem chega a sofrer de neuroses clinicamente definidas. Estão doentes devido à falta de sentido e conteúdo de suas vidas”. Nesses casos, diz Jung, os “recursos do consciente estão esgotados”.

Conselhos de Jung - A pergunta do paciente tais como: “Qual é o seu conselho? Que devo fazer?”, não sei responder, pois nem eu mesmo sei. Só sei de uma coisa: que, quando o meu consciente encalha por não encontrar saídas viáveis, minha alma inconsciente vai reagir a essa estagnação insuportável [...]. Nestes casos, o que viso em primeiro lugar são os sonhos. Faço isso [...] simplesmente porque não tenho outra saída. Não sei a que mais recorrer. Por isso que tento encontrar uma pista nos sonhos. Estes dão ensejos à imaginação, que tem que ser indício de alguma coisa. Isso já é mais do que nada. [...] Faço meus todos os preconceitos contra a interpretação dos sonhos como sendo a quintessência de toda incerteza e arbitrariedade. Mas, por outro lado, sei que quase sempre dá bons resultados fazer uma meditação verdadeira e profunda sobre o sonho, isto é, quando o carregamos dentro de nós por muito tempo. Evidentemente esses resultados [...] são um indicador importante em termos práticos que indica ao paciente em que direção aponta o inconsciente. [...] Devo contentar-me simplesmente com o fato de que ele significa algo para o paciente e faz fluir a sua vida. O único critério que posso admitir, portanto, é que os resultados do meu esforço produzam efeito.


Segundo Jung, a função dos sonhos é fazer fluir a vida novamente, passar da estagnação, que atualmente podemos relacionar com o problema da falta de sentido, da depressão e do tédio, outra vez para a correnteza da vida, o que envolve interesse, experiência de sentido e um olhar voltado para frente. Algo que, tem êxito apenas quando nos confrontamos com o sonho, fazemos uma meditação sobre o sonho, o carregamos dentro de nós. Jung não fala da interpretação em um sentido mais restrito, e sim, afirma que os sonhos estimulam os processos de imaginação, despertam representações, que possuem uma dinâmica própria e são capazes de pôr ideias enrijecidas em movimento. Sonhos produzem efeitos.

Livro: Sonhos, a linguagem enigmática do inconsciente
Autora: Verena Kast

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