Para que servem
os sonhos?
Para
C.G. Jung os sonhos e a dedicação a eles encontravam-se no centro de seu estudo
em confronto com o inconsciente e também no centro da psicoterapia: “[...]
todos os problemas que me preocupavam humana ou cientificamente foram
antecipados ou acompanhados por sonhos [...]”. Essa experiência, ou pelo menos
a expectativa que assim seja, parece valer ainda atualmente para a maioria dos
e das analistas da escola junguiana.
Em
seu ensaio Os objetivos da psicoterapia Jung escreve: “Aproximadamente um terço
dos meus clientes nem chega a sofrer de neuroses clinicamente definidas. Estão
doentes devido à falta de sentido e conteúdo de suas vidas”. Nesses casos, diz
Jung, os “recursos do consciente estão esgotados”.
Conselhos de Jung - A pergunta do paciente tais como: “Qual é o
seu conselho? Que devo fazer?”, não sei responder, pois nem eu mesmo sei. Só
sei de uma coisa: que, quando o meu consciente encalha por não encontrar saídas
viáveis, minha alma inconsciente vai reagir a essa estagnação insuportável
[...]. Nestes casos, o que viso em primeiro lugar são os sonhos. Faço isso
[...] simplesmente porque não tenho outra saída. Não sei a que mais recorrer.
Por isso que tento encontrar uma pista nos sonhos. Estes dão ensejos à
imaginação, que tem que ser indício de alguma coisa. Isso já é mais do que
nada. [...] Faço meus todos os preconceitos contra a interpretação dos sonhos
como sendo a quintessência de toda incerteza e arbitrariedade. Mas, por outro
lado, sei que quase sempre dá bons resultados fazer uma meditação verdadeira e
profunda sobre o sonho, isto é, quando o carregamos dentro de nós por muito
tempo. Evidentemente esses resultados [...] são um indicador importante em
termos práticos que indica ao paciente em que direção aponta o inconsciente.
[...] Devo contentar-me simplesmente com o fato de que ele significa algo para
o paciente e faz fluir a sua vida. O único critério que posso admitir,
portanto, é que os resultados do meu esforço produzam efeito.
Segundo
Jung, a função dos sonhos é fazer fluir a vida novamente, passar da estagnação,
que atualmente podemos relacionar com o problema da falta de sentido, da
depressão e do tédio, outra vez para a correnteza da vida, o que envolve
interesse, experiência de sentido e um olhar voltado para frente. Algo que, tem
êxito apenas quando nos confrontamos com o sonho, fazemos uma meditação sobre o
sonho, o carregamos dentro de nós. Jung não fala da interpretação em um sentido
mais restrito, e sim, afirma que os sonhos estimulam os processos de
imaginação, despertam representações, que possuem uma dinâmica própria e são
capazes de pôr ideias enrijecidas em movimento. Sonhos
produzem efeitos.
Livro: Sonhos, a linguagem enigmática do inconsciente
Autora: Verena Kast
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