José Régio
“Vem por aqui” – dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: “Vem por aqui!”
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo o braços,
E nunca vou por ali [...]
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos [...]se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
[...]
Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes pátria, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura!
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios [...]
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me diga: “Vem por aqui”! [...]
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!
Livro: Um céu numa flor silvestre
Autor: Rubem Alves
Pg.137/138
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