Nas minhas caminhadas, esses objetivos louváveis e salutares são apenas efeitos colaterais. Não caminho por dever. Caminho por prazer. O que me dá alegria ao caminhar não são os possíveis benefícios médicos dessa prática, mas as excitações dos meus sentidos. Caminho para alegrar os meus olhos, os meus ouvidos, o meu nariz, a minha pele... caminho para fazer amor com a natureza.
É assim que caminho na Fazenda Santa Elisa. Quem caminha para chegar a algum ou para fazer exercício, isto é, quem caminha por razoes práticas, olha ou para a frente ou para o chão. Mas eu, que caminho por prazer, olho para todos os lados, para baixo e para cima.
Quem entende de caminhadas é Alberto Caeiro.
[...]
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Não é que ele estivesse vendo coisas não vistas. A coisa estava lá, ontem, e ele a viu. Mas, ao vê-la hoje, ela é outra... Porque os olhos mudaram. Alberto Caeiro tinha olhos de criança.
E dizia:
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...
Livro: Um céu numa flor silvestre
Autor: Rubem Alves
Pg.87/88
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