O gosto pelos passarinhos
Comecei a gostar de passarinhos desde os oito
anos de idade. Eu tinha um colega de escola o Zé Amendoim que tinha um canário
da terra de uma perna só que cantava e brigava com outros e dava espetáculo. Eu
me encantei. Pedi, e meu pai comprou para mim um canarinho pardo ainda novo que
não cantava. Um dia, o Zequinha perguntou se eu queria trocar o meu passarinho
por outro mais amarelinho. Topei...
Depois descobrir a manta que levei. O meu era
macho e ainda não cantava porque era novo. O dele era fêmea não cantou nunca só
piava. Mas ao menos me servia para chamar outros e assim peguei outros no
alçapão. Falar em alçapão, ele funciona como rede de pescar. Você quer um tipo
de passarinho. Atraídos pela canjiquinha ou alpiste. Vinham outros intrusos que
me atrapalhavam e que me obrigavam a ir soltar e armar de novo o alçapão. Isso
espantava o pretendente que eu queria e já estava por perto chamado pela companheira
da gaiola. E quando vinha o danado do tizil com seus pulinhos de saci eram os
mais freqüentadores embora não fossem chamados.
Aos dez anos fui mandado para o seminário
queria levar comigo meu único patrimônio construído por dois anos. Minhas
gaiolas e meus passarinhos. Não pude levar. Deixei uma herança para meu irmão
Geraldo com muitas recomendações para cuidar dos meus amiguinhos de infância.
Ele não tinha gosto e vocação para passarinhos. Vim a saber que deles se
desfez, fiquei magoado quando soube. Mas mágoa à distância e preso como um
passarinho na gaiola do seminário, lá eu é que tinha que cantar ainda que de
saudade.
Autor: Paulo Motta
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