segunda-feira, 8 de dezembro de 2014



O gosto pelos passarinhos
 
Comecei a gostar de passarinhos desde os oito anos de idade. Eu tinha um colega de escola o Zé Amendoim que tinha um canário da terra de uma perna só que cantava e brigava com outros e dava espetáculo. Eu me encantei. Pedi, e meu pai comprou para mim um canarinho pardo ainda novo que não cantava. Um dia, o Zequinha perguntou se eu queria trocar o meu passarinho por outro mais amarelinho. Topei...
          Depois descobrir a manta que levei. O meu era macho e ainda não cantava porque era novo. O dele era fêmea não cantou nunca só piava. Mas ao menos me servia para chamar outros e assim peguei outros no alçapão. Falar em alçapão, ele funciona como rede de pescar. Você quer um tipo de passarinho. Atraídos pela canjiquinha ou alpiste. Vinham outros intrusos que me atrapalhavam e que me obrigavam a ir soltar e armar de novo o alçapão. Isso espantava o pretendente que eu queria e já estava por perto chamado pela companheira da gaiola. E quando vinha o danado do tizil com seus pulinhos de saci eram os mais freqüentadores embora não fossem chamados.
Aos dez anos fui mandado para o seminário queria levar comigo meu único patrimônio construído por dois anos. Minhas gaiolas e meus passarinhos. Não pude levar. Deixei uma herança para meu irmão Geraldo com muitas recomendações para cuidar dos meus amiguinhos de infância. Ele não tinha gosto e vocação para passarinhos. Vim a saber que deles se desfez, fiquei magoado quando soube. Mas mágoa à distância e preso como um passarinho na gaiola do seminário, lá eu é que tinha que cantar ainda que de saudade. 

Autor: Paulo Motta

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