Por conta do chefe
Um empregado da estrada de ferro,
meu irmão, admitido como arquivista, era solicitado a fazer coisas outras bem
diferentes, como servir café, buscar correspondências, limpar o chão. Mas o
maluquinho, como era conhecido pelos colegas, não era de fácil tratamento.
Quando mandado para fazer outras coisas, lembrava a seus superiores que tais
coisas não faziam parte de seu ofício, arquivista..
Isso irritava seus superiores. Por
tais comportamentos foi transferido do Rio para uma estação próxima de Juiz de
Fora. Claro que o empregado esperneou dizendo que sua família morava no Rio e
não podia mudar com ele. Não adiantou, o castigo foi aplicado. O maluquinho não
se deu por achado, continuava resoluto dentro de sua área e sempre lembrando
seus direitos.
Certa vez foi reclamar com o chefe
que a comida não era boa, dizendo a ele: o senhor não come o que nós comemos...
Uma vez, botou uma barata morta na
quentinha e levou ao chefe... Daí para frente vendo que a reclamação não surtia
efeito partiu para outra. Disse ao chefe do restaurante que passaria a comer
ali e no fim do mês mandaria a conta para a chefia.
Quando o chefe recebeu a conta disse ao empregado: pagarei, mas
vou descontar no teu pagamento. Novamente o empregado desafiado disse que era
seu direito comer como gente e não como bicho. E mais: se o senhor fizer isso
não ficará bem para o senhor. Você me ameaça? De jeito nenhum, apenas levarei a
conhecimento de sua mulher o que o senhor faz com sua amante. O seu diabo! Você anda vasculhando minha
vida? Não doutor, aqui todo mundo sabe, só que eu negocio o silêncio com o
senhor.
Você é péssimo empregado. Não
doutor, eu sou pequeno e sou pisado. Mas não calo. Vou te devolver para o Rio
de onde te mandaram para cá. O senhor fará justiça e fará bem a si mesmo.
Contos de Paulo Motta
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