quarta-feira, 13 de novembro de 2013

POEMA DO MILHO

Milho...
Punhado plantado nos quintais.
Talhões fechados pelas roças.
Entremeado nas lavouras.
Baliza marcante nas divisas.
Milho verde. Milho seco.
Bem granado, cor de ouro.
Alvo. Às vezes vareia.
- espiga roxa, vermelha, salpintada.

Milho virado, maduro, onde o feijão enrama.
Milho quebrado, debulhado
Na festa das colheitas anuais.
Bandeiras esquecidas na fartura.
Dos pássaros e dos bichos.

Milho empaiolado...
Abastança tranqüila
Do rato,
Do caruncho,
Do cupim.
Palha de milho para o colchão.
Jogada pelos pastos.
Mascada pelo gado.
Trançada em fundos de cadeiras.

Queimada nas coivaras.
Leve mortalha de cigarros.
Balaio de milho trocado com o vizinho
No tempo da planta.
“_ Não se planta, nos sítios, semente da mesma terra.”

Ventos rondando, redemoinhando.
Ventos de outubro.

Tempo mudado. Revôo de saúva.
Trovão surdo, tropeiro.
Na vazante do brejo, no lameiro,
O sapo-fole, o sapo-ferreiro, o sapo-cachorro.
Acauã de madrugada
Marcando o tempo, chamando chuva.
Roça nova encoivarada,
Começo de brotação.
Roça velha destocada.
Palhada batida, riscada de arado.
Barrufo de chuva.
Cheiro de terra, cheiro de mato.
Terra molhada. Terra saroia.
Noite chuvada, relampeada.
Dia sombrio. Tempo mudado, dando sinais.

Livro: Poemas dos becos de Goiás e estórias mais

Autora: Cora Coralina

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