Os olhos dos adultos,
havendo se enchido de saber, e havendo, portanto, perdido a capacidade de vê
das crianças, olham sem nada ver (daí o seu tédio crônico) e ficam procurando
cura para sua monotonia de ver em experiências místicas esquisitas, em visões
de outros mundos, ou em experiências psicodélicas multicoloridas.
Pois eu lhe garanto
que não existe visão de outro mundo que se compare, em beleza, à asa de uma
borboleta. Quem o disse foi Cecília Meireles, poetisa. Os poetas são religiosos
que não necessitam de religião porque os assombros deste mundo maravilhoso lhes
são suficientes. Foi assim que ela pintou a cosmologia poética que seus olhos
viam: “No mistério do Sem-Fim, / equilibra-se um planeta. / E, no planeta, um
jardim, / e, no jardim, um canteiro: / e, n canteiro, uma violeta, / e sobre
ela, o dia inteiro, / entre o planeta e o Sem-Fim, / a asa de uma borboleta”.
Livro: Coisas que dão
alegria
Autor: Rubem Alves
Pg.25
Nenhum comentário:
Postar um comentário