quinta-feira, 7 de novembro de 2013

OS OLHOS DA CRIANÇA


Os olhos dos adultos, havendo se enchido de saber, e havendo, portanto, perdido a capacidade de vê das crianças, olham sem nada ver (daí o seu tédio crônico) e ficam procurando cura para sua monotonia de ver em experiências místicas esquisitas, em visões de outros mundos, ou em experiências psicodélicas multicoloridas.
Pois eu lhe garanto que não existe visão de outro mundo que se compare, em beleza, à asa de uma borboleta. Quem o disse foi Cecília Meireles, poetisa. Os poetas são religiosos que não necessitam de religião porque os assombros deste mundo maravilhoso lhes são suficientes. Foi assim que ela pintou a cosmologia poética que seus olhos viam: “No mistério do Sem-Fim, / equilibra-se um planeta. / E, no planeta, um jardim, / e, no jardim, um canteiro: / e, n canteiro, uma violeta, / e sobre ela, o dia inteiro, / entre o planeta e o Sem-Fim, / a asa de uma borboleta”.

Livro: Coisas que dão alegria
Autor: Rubem Alves
Pg.25

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