Essa Mulher...
Tosca. Sentada.
Alheada...
Braços cansados
Descansando nos
joelhos...
Olhar parado, vago,
Perdida no seu mundo
De trouxas e espuma
de sabão
- é a lavadeira.
Mãos rudes,
deformadas.
Roupa molhada.
Dedos curtos.
Unhas enrugadas.
Córneas.
Unheiros doloridos
Passaram, marcaram.
No anular, um círculo
metálico
Barato, memorial.
Seu olhar distante,
Parado no tempo.
À sua volta
- uma espumarada
branca de sabão.
Inda o dia vem longe
Na casa de Deus Nosso
Senhor,
O primeiro varal de roupa
Festeja o sol que vai
subindo,
Vestindo o quaradouro
De cores multicores.
Essa mulher
Tem quarenta anos de
lavadeira.
Doze filhos
Crescidos e
crescendo.
Viúva, naturalmente.
Tranqüila, exata,
corajosa.
Temente dos castigos
do céu
Enrodilhada no seu
mundo pobre.
Madrugadeira.
Salva a aurora.
Espera pelo sol.
Abre os portais do
dia
Entre trouxas e
barrelas.
Sonha calada.
Enquanto a filharada
cresce,
Trabalham suas mãos
pesadas.
Seu mundo se resume
Na vasca, no gramado.
No arame e
prendedores.
Na tina d’água.
De noite – o ferro de
engomar.
Vai lavando. Vai
levando.
Levantando doze
filhos
Crescendo devagar,
Enrodilhada no seu
mundo pobre,
Dentro de um
espumarada
Branca de sabão.
Às lavadeiras do Rio
Vermelho
Da minha terra,
Faço deste pequeno
poema
Meu altar de ofertas.
Livro: coleção melhores poemas
Autora: Cora
Coralina
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