UM JORNAL À BEIRA DA
FALÊNCIA
Um jornal de pouca circulação na cidade de São
Paulo estava à beira da falência. Um redator de contos que entrou a fazer parte
da redação do periódico criou uma situação para aumentar a circulação do
jornal.
Havia morrido uma menina
com nove anos de idade, muito bonita e de família muito religiosa. Dando
cobertura do enterro e sabendo do histórico da vida da menina, pôs-se a
divulgar diariamente no jornal fatos inusitados. Algumas pombinhas brancas não
saiam da sepultura da criança falecida. Daí para explicar que a santinha era
muito devota do Espírito Santo e o fenômeno era uma manifestação divina da
santidade dela, foi questão fechada.
As visitas do povo ao túmulo da pequena
aumentava dia a dia e a tiragem do jornal teve que satisfazer a grande
curiosidade e a natural religiosidade do povo com novas informações sobre a
nova Santa. Entrevista com os pais, com os amiguinhos e com os médicos eram a
fonte donde o jornal hauria com abundância de detalhes para o seu noticiário de
cada dia.
A Igreja foi convocada a se
manifestar e assim designou um padre para acompanhar os acontecimentos,
analisando a realidade dos noticiários. De fato tratava-se de uma menina muito
religiosa, de família piedosa. Quanto à permanência de pombos na sepultura,
constatou o religioso que elas tinham suas asas cortadas e havia alimentação
sobre a sepultura.
Naturalmente que o
veredicto da Igreja foi objetivo e chegou a detectar por trás das reportagens o
interesse publicitário do jornal. Daí pra frente à informação tirou a
freqüência popular ao cemitério e o fato caiu no esquecimento. O jornal acuado
pelos outros informativos teve que fechar suas portas e terminar a circulação
do periódico.
Era o ano de 1948, quando a
falta de notícias bombásticas não existiam. O redator mudou-se de São Paulo
para não ser perturbado pela população e procurar emprego noutra comarca que
não o conhecesse.
Contos de Paulo Motta
Livro: Memórias de um Seminarista
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