sexta-feira, 23 de janeiro de 2015



Lampião
 
 Aula de literatura. Análises criticas de textos de grandes autores.
Após um ano, as provas. O título escolhido foi lampião, após leitura da poesia sobre lampião de gás em aulas passadas, poesia linda, uma aluna que ouvira falar muito sobre o bandoleiro do nordeste que espalhou tanto medo no sertão, ligou-se de imediato no herói do espaço nordestino. Escreveu três laudas fazendo considerações sobre ele. Analisou o menino pobre do sertão, as injustiças de um governo aliado aos coronéis, a carência de educação e saúde. Sentia-se empolgada. Muito ouvira falar dele. Conhecia pessoas que conheceram e até acompanharam o justiceiro do sertão. A aluna não esquecera que Lampião trazia sempre com ele uma colher de prata, que colocada nos alimentos empretejava se eles estivessem envenenados. Então, ai de quem preparara a refeição.
Terminada a prova à hora do recreio, conversando com as colegas veio a saber que o tema era sobre lampião de gás que tanta saudade causava aos nossos avós.
A nossa escritora esperava uma nota máxima pelo esbanjamento de conhecimentos dos fatos históricos de um passado tão marcante e divulgado no meio do povo.
E agora? Reprovação, nota baixa, ridículo perante a sala? Não se conteve e chorou. Como foi possível uma distração tão grande influenciada por estórias ouvidas em casa? O jeito era procurar o professor e pedir nova chance com outra prova, afinal o assunto escolhido também lhe era familiar. Seus avós e seus pais eram do tempo do lampião e da lamparina... Mas o professor rindo, lhe disse: Amei seu trabalho. Foi ótimo. Não vou lhe dizer como Santo Agostinho, “bene curristi, sed extra viam”, traduzindo: falaste muito bem, mas fora do assunto. Pelo contrário dei nota máxima ao seu trabalho. A aluna chorou de novo. Agora de alegria e gratidão ao professor.
Contando o caso posteriormente, atribuiu a seu professor sensibilidade em valorizar mais o contudo do que a forma.
       Atitude pouco ou nada comum entre professores. Principalmente quando o pedagogo conhece seu aluno e o acompanha ao longo da aprendizagem.

Autor: Paulo Motta
Livro: Memória de um Seminarista

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