Eu tinha feito uma promessa quando ainda menino de que se chegasse a ser padre iria rezar uma missa na Basílica de Aparecida. Na ocasião eu era um garoto de onze anos.O tempo passou. E o menino que fez a promessa chegou a ser padre. Não esqueceu seu compromisso com a Mãe de Deus, mas designado para lugares distantes, foi deixando para época mais oportuna. E essa chegou.
Estando no Rio de Janeiro, já com dez anos de ordenação providenciou a viagem até Aparecida. Naquela época havia o chamado trem de aço que fazia o percurso Rio – São Paulo. Era o noturno que saia do Rio às vinte horas, passava por Aparecida por volta das duas da madrugada. A essa hora tudo parado, todos dormindo não era o caso de procurar um hotel porque às seis horas a Basílica já estaria aberta. Fazia frio, mas o padre estava agasalhado com uma longa capa dupla.
Havia uma praça e nela muitos bancos. Escolhi um deles mais perto do templo e nele resolvi dormir. Estava tão cansado e com tanto sono que dormi um sono dos anjos…
Por volta das cinco horas da manhã os caminhões estacionados na praça começaram a se movimentar e seus motoristas que dormiram no próprio veículo, passavam para tomar um cafezinho quente. Vendo alguém dormindo no banco da praça, passaram devagar comentando: “É isso aí o cara enche a cara depois não consegue voltar para casa, cai no primeiro banco embalado pela pinga…
Eu acordei com o barulho de caminhões ligados e com a conversa bem perto de mim. Não me levantei para explicar ou me justificar.
Depois, levantei-me ainda com sono e me dirigi devagar para o lado da igreja, que de fato abriu as portas às cinco e meia da manhã. Lá rindo de mim mesmo e pensando como o povo, em geral julga as pessoas. E como foi bom passar por bêbado quem de fato tinha vontade de se embriagar pelas coisas divinas e pela sua história da vida de menino quando ali fiz a promessa.
Contos de Paulo Motta
Livro: Memórias de um Seminarista