Caminhando pela
trilhas da Bíblia deparamos frequentemente com um fato singular: o ponto de
partida de onde se levanta e sobe a Deus o coração do homem é o nível zero.
Quando se tocou o
fundo da indigência, não sobra mais vislumbre de esperança humana; quando o
homem conhece e reconhece que nada pode, fica sem ter onde agarrar, porque
todas as vigas de sustentação estalam e cedem. Então Deus se levanta, no meio
do caminho, como a única coluna de segurança.
No deserto do Sinai,
o povo declarou-se em rebelião contra Deus e contra seu servo Moisés. Soltou as
rédeas de sua decepção e, entre soluços e saudades, protestava e reclamava a
carne e o peixe, as verduras e as cebolas do Egito.
Nesse momento também
a barca de Moisés fez água por todos os lados, e também ele rompeu numa longa
lamentação contra Deus: “Por que me tratas assim? Por que tenho que carregar
sozinho o peso de todo um povo? Por que não me dás um olhar de benevolência,
mesmo fugaz? Depositastes nos meus braços este povo, um povo cabeçudo que não
fui eu que gerei, e me obrigas a carregá-lo até a terra prometida. Onde é que
vou arranjar carne para eles comerem? É muito pesado para mim. Se é para me
tratar assim, mata-me, por favor, se encontrei graça diante de teus olhos, para
que não precise sofrer por mais tempo esta desventura” (Nm 11,17)
E Deus, compreensivo,
veio socorrer a solidão de seu servo com uma assistência especial e dividiu as
responsabilidades.
A tentação eterna do
homem é a idolatria. Qualquer criatura: êxito, força, poder e juventude,
dinheiro, beleza seduzem o homem, e o homem se deixa seduzir, dobra os joelhos,
e adora. É difícil, para não dizer impossível, dedicar devoção e tempo a vários
deuses ao mesmo tempo. Só quando o caruncho rói as entranhas dos ídolos é que
os sonhos fogem e se afastam por caminhos apagados, os muros ruem pedra por
pedra e o homem fica nu e desarmado na intempérie, só então fica em condição de
adorar. Só então Deus se levanta com consistência, firmeza e perenidade.
Os pobres, só eles, têm
as portas abertas para a admiração e a adoração.
Livro: Salmos para a Vida
Autor: Inácio Larrañaga
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