quinta-feira, 3 de julho de 2014

Da desolação à consolação




Caminhando pela trilhas da Bíblia deparamos frequentemente com um fato singular: o ponto de partida de onde se levanta e sobe a Deus o coração do homem é o nível zero.
Quando se tocou o fundo da indigência, não sobra mais vislumbre de esperança humana; quando o homem conhece e reconhece que nada pode, fica sem ter onde agarrar, porque todas as vigas de sustentação estalam e cedem. Então Deus se levanta, no meio do caminho, como a única coluna de segurança.
No deserto do Sinai, o povo declarou-se em rebelião contra Deus e contra seu servo Moisés. Soltou as rédeas de sua decepção e, entre soluços e saudades, protestava e reclamava a carne e o peixe, as verduras e as cebolas do Egito.
Nesse momento também a barca de Moisés fez água por todos os lados, e também ele rompeu numa longa lamentação contra Deus: “Por que me tratas assim? Por que tenho que carregar sozinho o peso de todo um povo? Por que não me dás um olhar de benevolência, mesmo fugaz? Depositastes nos meus braços este povo, um povo cabeçudo que não fui eu que gerei, e me obrigas a carregá-lo até a terra prometida. Onde é que vou arranjar carne para eles comerem? É muito pesado para mim. Se é para me tratar assim, mata-me, por favor, se encontrei graça diante de teus olhos, para que não precise sofrer por mais tempo esta desventura” (Nm 11,17)
E Deus, compreensivo, veio socorrer a solidão de seu servo com uma assistência especial e dividiu as responsabilidades.
A tentação eterna do homem é a idolatria. Qualquer criatura: êxito, força, poder e juventude, dinheiro, beleza seduzem o homem, e o homem se deixa seduzir, dobra os joelhos, e adora. É difícil, para não dizer impossível, dedicar devoção e tempo a vários deuses ao mesmo tempo. Só quando o caruncho rói as entranhas dos ídolos é que os sonhos fogem e se afastam por caminhos apagados, os muros ruem pedra por pedra e o homem fica nu e desarmado na intempérie, só então fica em condição de adorar. Só então Deus se levanta com consistência, firmeza e perenidade.
Os pobres, só eles, têm as portas abertas para a admiração e a adoração. 

Livro: Salmos para a Vida 
Autor: Inácio Larrañaga

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