segunda-feira, 30 de junho de 2014

O DESAFIO DE SAIR DA CAIXA





Para variar, começo com uma piada. Na fronteira entre México e Estados Unidos.
O policial observa um homem andando de bicicleta atravessar para seu país com uma caixa equilibrada sobre o guidão. Cioso com a fiscalização, ele pede que o ciclista pare e abra a embalagem. Após constatar que ali dentro há apenas areia, o fiscal permite que o outro siga. No dia seguinte, novamente o rapaz passa de bicicleta, o policial o interrompe, encontra só areia dentro da caixa. A cena se repete no três meses seguintes. Passados alguns anos, o policial, já aposentado, vê o homem em uma loja e diz: “Olha amigo, você me deixou intrigado por muito tempo, entrando e saindo do país com uma caixa onde havia apenas areia. Afinal, o que estava contrabandeando?”. O outro hesitou, desconfiado, mas por fim respondeu: “Bicicletas”.

A anedota ilustra uma forma criativa de pensar sobre a situação que pode nortear uma perspectiva capaz de escapar do convencional: “Certo, vejo a ‘areia’ (o óbvio), mas onde está a ‘bicicleta’ (aquilo que passa despercebido)?”.

A expressão “pensar fora da caixa” está relacionada á possibilidade de fugir do padrão, do convencional – o que implica ter novas idéias. Há referências de que tenha sido popularizada quando a Disney lançou um quebra-cabeça intelectual. A proposta é ligar nove pontos desenhando quatro retas, linhas contínuas que passam por cada um deles, sem levantar o lápis do papel. O dilema pode ser facilmente resolvido se a pessoa desenhar as linhas fora dos limites da área do quadrado definido pelos pontos.

No começo da década de 80 o pesquisador Robert Sabga, da Universidade de Toronto, estudou técnicas de solução de problemas, referindo-se ao “pensamento paralelo” – e recorreu à piada do homem da bicicleta, reforçando a metáfora da “caixa”.

Hoje, muitos estudiosos apostam que é possível aumentar o potencial criativo e tornar os bem-vindo insights mais freqüentes. Exercitar a capacidade de colocar-se no lugar do outro (e conseqüentemente obter assim outras visões de mundo), tirar um tempo para simplesmente se divertir sem se preocupar com os problemas e valorizar idéias alheias, apoiando-se nelas para construir as próprias soluções pode ser surpreendentemente útil. A predisposição de incrementar a criatividade é por si só, uma atitude criativa e fundamental não apenas no trabalho, mas na vida, de forma geral. Para os psicanalistas Donald Winnicott e Melanie Klein, por exemplo, a capacidade criativa está associada a processos psíquicos complexos, que favorecem a saúde mental. O maior aprendizado talvez seja mesmo pensar diferente, olhar com “olhos de ver”, aquilo que já notávamos que havia.



Autora: Gláucia Leal

Revista: mente Cérebro pg. 3

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