Os filmes de Manoelzinho lembram como anunciava os filmes
exibidos em Mantenópolis, no Espírito Santo. Desde os oito anos, quando
descobriu o cinema da cidade, fez bico como divulgador durante o dia para ganhar
uma câmera e ter suas próprias propagandas pelas ruas como cineasta – diretor,
roteirista e ator ao mesmo tempo!... Certo dia de 1987, um garoto passou de
bicicleta espalhando pelo município capixaba: “Não percam logo mais um
sensacional filme de Manoel Loreno!.
A primeira história do servente de pedreiro e agricultor
lotou o ginásio naquela tarde. Isso tudo sem telão. Boa parte dos 15 mil
habitantes do município (ele estima “umas duas mil pessoas”) se dividiu entre
duas televisões para assistir ao thriller “ A Vingança de Loreno”. Ninguém
ligou que as cenas noturnas fossem gravadas com sol forte, que trabalhadores da
roça fizessem as vezes de atores, que o sangue fosse “quissuco” ou que as
assombrações usassem máscaras infantis. No fim, todos ficavam na quadra até o
filme passar de novo.
Manoel Loreno continuou filmando
e vendendo as fitas pela
Cidade .São cerca de 40 títulos, como “A Maldição da Casa de
Vanirim”, “O Espantalho Assassino” ou “A Gripe do Frango”, sempre ambientados
em terras estrangeiras, geralmente “Maiamis” e “Uóchinton”. O único equipamento
que seu Manoelzinho possuia, além da velha câmera VHS, era um gravador para a
sonoplastia. Com ele, soltva barulho de telefone, de tiro e toca a trilha
sonora nos momentos certos durante a gravação.
Na sombra de uma árvore, sempre a mesma, o cineasta desenhava
as
cenas, já que nunca aprendera a escrever. Para as filmagens,
convocava atores voluntários e, na hora, definia o papel de cada um: capanga ou
bandido, se for faroeste; zumbi ou vítima, se for de assombração. “Nunca faltava
para ninguém, “faço cenas para todo mundo participar.” O único ator predefinido
era ele mesmo: “Os bandidos morriam todos, o mocinho ficava até o final da
fita”.
Segundo a
jornalista Eliane Brum, o que se contava nos filmes de seu Manoelzinho, além do
enredo, “é o improviso que a vida nos exige, obrigando-nos a uma constante
reinvenção do roteiro previsto e sempre fadado ao fracasso”.
Bernadette
Lyra, uma das curadoras da mostra paulistana Cinema de Bordas, faz análise
parecida: “Não é o movimento coerente da história que interessa a ele, mas sim
o movimento da vida”. Sem contar teorias filosóficas e estéticas amador é
simples: divertir as pessoas. E a si próprio.
Revista: Brasil N°163
Ano 14 Pg. 7
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