sábado, 5 de outubro de 2013

O outro filho


Sem dúvida, a parábola mais cativante de Jesus é a do “pai bom”, mal chamada “parábola do filho pródigo”. Precisamente este “filho mais moço” atraiu quase sempre a atenção de comentaristas e pregadores. Seu retorno ao lar e a acolhida incrível do pai comovem todas as gerações cristãs.
No entanto, a parábola fala também do “filho mais velho”, um homem que permanece junto ao pai sem imitar a vida desordenada de seu irmão longe do lar. Quando o informam da festa organizada pelo pai para acolher o filho perdido, fica desconcertado. O retorno do irmão não lhe causa alegria, como a seu pai, mas raiva: “Indigna-se e nega-se a entrar” na festa. Nunca abandonou a casa, mas agora se sente como um estranho entre os seus.
O pai sai para convidá-lo com o mesmo carinho com que acolheu seu irmão. Não grita com ele nem lhe dá ordens. Com amor humilde “procura persuadi-lo” a entrar na festa da acolhida. E então que o filho explode, deixando a descoberto todo o seu ressentimento. Passou toda a sua vida cumprindo ordens do pai, mas não aprendeu a amar como ele ama. Só sabe exigir seus direitos e denegrir o irmão.
É esta a tragédia do filho mais velho. Nunca abandonou a casa, mas seu coração esteve sempre longe. Sabe cumprir mandamentos, mas não sabe amar. Não entende o amor de seu pai para com aquele filho perdido. Não acolhe nem perdoa, não quer nada de seu irmão. Jesus conclui sua parábola sem satisfazer nossa curiosidade. Ele entrou na festa ou ficou de fora?
Envoltos na crise religiosa da sociedade moderna, habituamo-nos a falar de crente e não crentes, de praticantes e afastados da Igreja, de matrimônios abençoados pela Igreja e casais em situação irregular... Enquanto nós continuamos classificando seus filhos e filhas, Deus continua nos esperando a todos, pois não é propriedade apenas dos bons nem dos praticantes. Ele é Pai de todos.
O “filho mais velho” nos interpela a nós que acreditamos viver junto do Pai. O que estamos fazendo nós que não abandonamos a Igreja? Assegurar nossa sobrevivência religiosa observando da melhor maneira possível o que está prescrito ou ser testemunhas do amor imenso de Deus para com todos os seus filhos e filhas? Estamos construindo comunidades abertas que sabem compreender, acolher e acompanhar os que buscam a Deus entre dúvidas e interrogações? Levantamos barreiras ou lançamos pontes? Oferecemos-lhes ou os olhamos com receio?

Livro: O caminho aberto por Jesus
Autor: José Antonio Pagola

Pg. 260/261

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