Desenvolvimento e
Cultura
O desenvolvimento e a
cultura estão intimamente ligados. No entanto, quem enfatiza essa conexão se
expõe imediatamente a um processo de intenção, provocado pela mera menção de
tal vínculo. Principalmente nos últimos vinte anos, declarar que o
desenvolvimento e a cultura das populações são interdependentes faz logo surgir
uma forte suspeita. Mais exatamente: formular essa constatação sugere a todos
aqueles que se negam a considerá-la que quem a enuncia interpreta os valores
próprios de cada grupo humano como determinantes indeléveis, cujo efeito é
condenar sociedades inteiras à miséria econômica e social, ou, ao contrário,
predestiná-las a um desenvolvimento indefinido. Em suma: segundo esses
“negacionistas” de uma espécie diferente, associar desenvolvimento e cultura
equivaleria a pregar uma nova doutrina da predestinação à pobreza ou à riqueza,
tanto dos homens como das sociedades e das nações.
Felizmente, essa
grave acusação não impressiona a todo o mundo. Ainda mais quando apresenta o
defeito, bastante redibitório, de combinar elementos de reflexão perfeitamente
admissíveis com uma forte tendência a praticar, com a melhor vontade do mundo,
aquilo que os especialistas da desinformação chamam de “língua de trapo”. Em
tais condições, compreende-se que o comum dos mortais conserve o que é, esse
sim, mero preconceito, segundo o qual os bons ou maus resultados econômicos de
um povo se devem, em última instância, à sua passividade, ou, ao contrário, a
seu dinamismo, engendrados definitivamente por seu universo cultural ou mental.
Por outro lado, é uma sorte que, atendendo, mais objetivamente neste caso, a
experiências permanentemente acumuladas, os agentes da ajuda para o
desenvolvimento nunca tenham tido que usar seriamente o termo desenvolvimento
associando-o, de forma mais ou menos explícita, à consideração do ambiente
cultural, por demais mutante, dos lugares onde exercem sua ação.
Autor: Guy Hermet
Livro: Cultura &
Desenvolvimento pg. 9-10
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