quarta-feira, 30 de outubro de 2013


Quanto mais vejo o Céu
mais vivo o Homem,
mais ou menos braços sou, paixões e mente,
e estes olhos e esta vida e o chão do tempo,

que o céu de mim sou eu, aqui e agora.

Poemas de Daniel Lima

E o vôo do pássaro que o vento logo apaga,
fica para sempre nos olhos que o percebem.
Não é eterno o que há.

A eternidade faz-se nos teus olhos.

Poemas de Daniel Lima 

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

São João Capistrano

Evangelho do dia 23/10/2013
(Lc 12,39-48)

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos:
39 “Ficai certos: se o dono da casa soubesse a hora em que o ladrão iria chegar, não deixaria que arrombasse a sua casa.
40 Vós também ficai preparados! Porque o Filho do Homem vai chegar na hora em que menos o esperardes”.
41 Então Pedro disse: “Senhor, tu contas esta parábola para nós ou para todos?”
42 E o Senhor respondeu: “Quem é o administrador fiel e prudente que o senhor vai colocar à frente do pessoal de sua casa para dar comida a todos na hora certa?
43 Feliz o empregado que o patrão, ao chegar, encontrar agindo assim!
44 Em verdade eu vos digo: o senhor lhe confiará a administração de todos os seus bens.
45 Porém, se aquele empregado pensar: ‘Meu patrão está demorando’, e começar a espancar os criados e as criadas, e a comer, a beber e a embriagar-se,
46 o senhor daquele empregado chegará num dia inesperado e numa hora imprevista, ele o partirá ao meio e o fará participar do destino dos infiéis.
47 Aquele empregado que, conhecendo a vontade do senhor, nada preparou, nem agiu conforme a sua vontade, será chicoteado muitas vezes. 48Porém, o empregado que não conhecia essa vontade e fez coisas que merecem castigo, será chicoteado poucas vezes. A quem muito foi dado, muito será pedido; a quem muito foi confiado, muito mais será exigido!”.


Desenvolvimento e Cultura
 
O desenvolvimento e a cultura estão intimamente ligados. No entanto, quem enfatiza essa conexão se expõe imediatamente a um processo de intenção, provocado pela mera menção de tal vínculo. Principalmente nos últimos vinte anos, declarar que o desenvolvimento e a cultura das populações são interdependentes faz logo surgir uma forte suspeita. Mais exatamente: formular essa constatação sugere a todos aqueles que se negam a considerá-la que quem a enuncia interpreta os valores próprios de cada grupo humano como determinantes indeléveis, cujo efeito é condenar sociedades inteiras à miséria econômica e social, ou, ao contrário, predestiná-las a um desenvolvimento indefinido. Em suma: segundo esses “negacionistas” de uma espécie diferente, associar desenvolvimento e cultura equivaleria a pregar uma nova doutrina da predestinação à pobreza ou à riqueza, tanto dos homens como das sociedades e das nações.
Felizmente, essa grave acusação não impressiona a todo o mundo. Ainda mais quando apresenta o defeito, bastante redibitório, de combinar elementos de reflexão perfeitamente admissíveis com uma forte tendência a praticar, com a melhor vontade do mundo, aquilo que os especialistas da desinformação chamam de “língua de trapo”. Em tais condições, compreende-se que o comum dos mortais conserve o que é, esse sim, mero preconceito, segundo o qual os bons ou maus resultados econômicos de um povo se devem, em última instância, à sua passividade, ou, ao contrário, a seu dinamismo, engendrados definitivamente por seu universo cultural ou mental. Por outro lado, é uma sorte que, atendendo, mais objetivamente neste caso, a experiências permanentemente acumuladas, os agentes da ajuda para o desenvolvimento nunca tenham tido que usar seriamente o termo desenvolvimento associando-o, de forma mais ou menos explícita, à consideração do ambiente cultural, por demais mutante, dos lugares onde exercem sua ação.

Autor: Guy Hermet

Livro: Cultura & Desenvolvimento pg. 9-10

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Viver: Conhecer, Criar e Amar


O mais perigoso é não arriscar.
Então, perde-se tudo: ou, pelo menos,
perde-se o melhor:
a esperança de ganhar tudo.
É na segurança exigida para agir,
que o homem “prudente” se perde.
Pois a segurança funda a
mediocridade do coração.
Ela leva ao apodrecimento da vida,
cortando as asas aos voos
do desejo e da libertação.
O que quer salvar a sua alma, perdê-la 
à como disse Jesus, misteriosamente,
ao anunciar a sua boa-nova.
Viver é estar arriscando tudo na esperança.
É aceitar a aventura sem fronteira
de ser uma consciência livre de homem
e ir para adiante, sem outra garantia,
que o amor, princípio e fim de tudo.
Daniel Lima

sábado, 5 de outubro de 2013

São Benedito, o Negro – Sábado 05/10/13


 
Evangelho (Lc 10,17-24)

— Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo + segundo Lucas.

Naquele tempo,
17 os setenta e dois voltaram muito contentes, dizendo: “Senhor, até os demônios nos obedeceram por causa do teu nome”.
18 Jesus respondeu: “Eu vi Satanás cair do céu, como um relâmpago.
19 Eu vos dei o poder de pisar em cima de cobras e escorpiões e sobre toda a força do inimigo. E nada vos poderá fazer mal.
20 Contudo, não vos alegreis porque os espíritos vos obedecem. Antes, ficai alegres porque vossos nomes estão escritos no céu”.
21 Naquele momento, Jesus exultou no Espírito Santo e disse: “Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste essas coisas aos sábios e inteligentes, e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, porque assim foi do teu agrado.
22 Tudo me foi entregue pelo meu Pai. Ninguém conhece quem é o Filho, a não ser o Pai; e ninguém conhece quem é o Pai, a não ser o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar”.
23 Jesus voltou-se para os discípulos e disse-lhes em particular: “Felizes os olhos que veem o que vós vedes!
24 Pois eu vos digo que muitos profetas e reis quiseram ver o que estais vendo, e não puderam ver; quiseram ouvir o que estais ouvindo, e não puderam ouvir”.

— Palavra da Salvação.

O que estamos vendo e contemplando? As maravilhas do Reino de Deus acontecendo no meio de nós!
“Pois eu vos digo que muitos profetas e reis quiseram ver o que estais vendo, e não puderam ver; quiseram ouvir o que estais ouvindo, e não puderam ouvir” (Lc 10,24).
Jesus em uma grande exaltação no espírito, na alma, eleva os braços ao Céu e glorifica ao Pai, o Senhor do Céu e da Terra. Porque não foi aos sábios e nem aos inteligentes deste mundo que Deus revelou os segredos do Seu Reino – mas foi aos pequeninos.
São os pequeninos, aqueles que são humildes, aqueles que têm uma alma grande para Deus, são esses que podem contemplar as belezas do Senhor.
Às vezes, inteligência demais atrapalha, não nos ajuda a entrar no essencial – que é a graça de Deus – porque podemos chegar a Deus pela razão. Mas a “razão pela razão” não contempla as maravilhas mais sublimes do Reino do Céus. É por isso que a razão precisa muito da fé.
A fé que os pequeninos têm, a fé que inclusive nossas crianças são as primeiras a ter; elas são as primeiras a nos mostrar o que é confiança. Cada criança confia cegamente no seu pai ou em sua mãe, rapidamente corre para o seu colo e se protege, se agasalha e se consola. Assim, devemos ser nós – pequeninos – com um coração cheio de fé e de confiança. Que possamos nos alegrar e nos rejubilar com a graça do Reino dos Céus!
O Reino de Deus é concebido para cada um de nós, na medida em que abrimos o nosso coração, na medida em que valorizamos as coisas d’Ele que se manifestam em nossa vida. Os discípulos voltaram alegres da pregação, porque tinham expulsado os demônios e feito prodígios em nome de Jesus. Mas o próprio Senhor diz que “a vossa alegria não é porque os demônios vos obedecem, a vossa alegria deve ser porque o vosso nome está escrito no Reino dos Céus” (cf. Lc 10,20).
Essa deve ser também a nossa alegria, porque nós contemplamos o Reino de Deus, porque o Seu Reino está no meio de nós e podemos apreciá-lo, vivê-lo, apregoá-lo; levar para que outros o conheçam. Pois muitos antes de nós, profetas, sacerdotes, desejaram ver o que nós estamos vendo e não puderam ver.
O que estamos vendo e contemplando? As maravilhas do Reino de Deus acontecendo no meio de nós; no pobre que se converte, no pecador que abandona o seu caminho errado e encontra em Deus a Salvação para sua vida.
Se você abrir os seus olhos, mas sobretudo o seu coração e contemplar com uma alma de criança o Reino dos Céus, você vai ver as maravilhas do Reino de Deus acontecer em sua vida.

Que Deus abençoe você!



O outro filho


Sem dúvida, a parábola mais cativante de Jesus é a do “pai bom”, mal chamada “parábola do filho pródigo”. Precisamente este “filho mais moço” atraiu quase sempre a atenção de comentaristas e pregadores. Seu retorno ao lar e a acolhida incrível do pai comovem todas as gerações cristãs.
No entanto, a parábola fala também do “filho mais velho”, um homem que permanece junto ao pai sem imitar a vida desordenada de seu irmão longe do lar. Quando o informam da festa organizada pelo pai para acolher o filho perdido, fica desconcertado. O retorno do irmão não lhe causa alegria, como a seu pai, mas raiva: “Indigna-se e nega-se a entrar” na festa. Nunca abandonou a casa, mas agora se sente como um estranho entre os seus.
O pai sai para convidá-lo com o mesmo carinho com que acolheu seu irmão. Não grita com ele nem lhe dá ordens. Com amor humilde “procura persuadi-lo” a entrar na festa da acolhida. E então que o filho explode, deixando a descoberto todo o seu ressentimento. Passou toda a sua vida cumprindo ordens do pai, mas não aprendeu a amar como ele ama. Só sabe exigir seus direitos e denegrir o irmão.
É esta a tragédia do filho mais velho. Nunca abandonou a casa, mas seu coração esteve sempre longe. Sabe cumprir mandamentos, mas não sabe amar. Não entende o amor de seu pai para com aquele filho perdido. Não acolhe nem perdoa, não quer nada de seu irmão. Jesus conclui sua parábola sem satisfazer nossa curiosidade. Ele entrou na festa ou ficou de fora?
Envoltos na crise religiosa da sociedade moderna, habituamo-nos a falar de crente e não crentes, de praticantes e afastados da Igreja, de matrimônios abençoados pela Igreja e casais em situação irregular... Enquanto nós continuamos classificando seus filhos e filhas, Deus continua nos esperando a todos, pois não é propriedade apenas dos bons nem dos praticantes. Ele é Pai de todos.
O “filho mais velho” nos interpela a nós que acreditamos viver junto do Pai. O que estamos fazendo nós que não abandonamos a Igreja? Assegurar nossa sobrevivência religiosa observando da melhor maneira possível o que está prescrito ou ser testemunhas do amor imenso de Deus para com todos os seus filhos e filhas? Estamos construindo comunidades abertas que sabem compreender, acolher e acompanhar os que buscam a Deus entre dúvidas e interrogações? Levantamos barreiras ou lançamos pontes? Oferecemos-lhes ou os olhamos com receio?

Livro: O caminho aberto por Jesus
Autor: José Antonio Pagola

Pg. 260/261

Um Cineasta da Vida


 

Os filmes de Manoelzinho lembram como anunciava os filmes exibidos em Mantenópolis, no Espírito Santo. Desde os oito anos, quando descobriu o cinema da cidade, fez bico como divulgador durante o dia para ganhar uma câmera e ter suas próprias propagandas pelas ruas como cineasta – diretor, roteirista e ator ao mesmo tempo!... Certo dia de 1987, um garoto passou de bicicleta espalhando pelo município capixaba: “Não percam logo mais um sensacional filme de Manoel Loreno!.
A primeira história do servente de pedreiro e agricultor lotou o ginásio naquela tarde. Isso tudo sem telão. Boa parte dos 15 mil habitantes do município (ele estima “umas duas mil pessoas”) se dividiu entre duas televisões para assistir ao thriller “ A Vingança de Loreno”. Ninguém ligou que as cenas noturnas fossem gravadas com sol forte, que trabalhadores da roça fizessem as vezes de atores, que o sangue fosse “quissuco” ou que as assombrações usassem máscaras infantis. No fim, todos ficavam na quadra até o filme passar de novo.
Manoel Loreno continuou filmando e vendendo as fitas pela
Cidade .São cerca de 40 títulos, como “A Maldição da Casa de Vanirim”, “O Espantalho Assassino” ou “A Gripe do Frango”, sempre ambientados em terras estrangeiras, geralmente “Maiamis” e “Uóchinton”. O único equipamento que seu Manoelzinho possuia, além da velha câmera VHS, era um gravador para a sonoplastia. Com ele, soltva barulho de telefone, de tiro e toca a trilha sonora nos momentos certos durante a gravação.
Na sombra de uma árvore, sempre a mesma, o cineasta desenhava as
cenas, já que nunca aprendera a escrever. Para as filmagens, convocava atores voluntários e, na hora, definia o papel de cada um: capanga ou bandido, se for faroeste; zumbi ou vítima, se for de assombração. “Nunca faltava para ninguém, “faço cenas para todo mundo participar.” O único ator predefinido era ele mesmo: “Os bandidos morriam todos, o mocinho ficava até o final da fita”.
       Segundo a jornalista Eliane Brum, o que se contava nos filmes de seu Manoelzinho, além do enredo, “é o improviso que a vida nos exige, obrigando-nos a uma constante reinvenção do roteiro previsto e sempre fadado ao fracasso”.
       Bernadette Lyra, uma das curadoras da mostra paulistana Cinema de Bordas, faz análise parecida: “Não é o movimento coerente da história que interessa a ele, mas sim o movimento da vida”. Sem contar teorias filosóficas e estéticas amador é simples: divertir as pessoas. E a si próprio.


Revista: Brasil N°163 Ano 14 Pg. 7