O Bode faz a festa
A festa de São João consta do calendário nacional e é celebrada desde os tempos coloniais em todos os recantos do País e a origem dessas celebrações está na própria Bíblia quando narra o nascimento do Batista.
Muitas são as características dessa festa, como, a fogueira, a quadrilha, o mastro com a figura do santo, as barraquinhas, o caminhar sobre as brasas, os fogos de artifício, os leilões, o pau de sebo, sem faltar às bandeirinhas.
Num lugarejo do Estado do Rio (em Funil) os leilões tinham características interessantes. Arrematavam-se as prendas trazidas pelos devotos, fazendeiros e comerciantes e as famílias com seus bolos, frangos assados, leitões com farofa e outros petiscos salgados e doces.
As prendas de frutas eram muitas vezes arrematadas para a garotada que fazia a farra e gritava o nome do generoso senhor. A professora do local, presente na festa se encarregava de distribuir a prenda à meninada.
O mais curioso é que um fazendeiro levava um bode não para ser leiloado, mas para despertar uma curiosidade que trazia espanto e era aproveitada para brincadeiras generalizadas.
O bode era hemafrodita e à frente do público tiravam leite de suas maminhas que era colocado numa garrafinha de óleo de rícino.
Aí começava a brincadeira. O leite era leiloado para o arrematante beber à frente de todos. Quem quereria? Um oferecia uma quantia para que fulano tomasse, esse oferecia lance para algum importante ser a vítima e o leilão era demorado até chegar num turco pão-duro que não dava sequência aos lances.
Então era o “gran finale”: o turco tinha que beber. Bebe não bebe, tem que beber a torcida era: bebe, bebe! Se não o fizer, será obrigado pelo pagante e seus companheiros de lances.
A torcida era agora um amontoado ao redor do turco, e o turco bebeu e fingiu naturalidade, certamente por não ter desembolsado dinheiro para dar lance e gastar. A dúvida é se era leite mesmo ou... O turco não disse.
São João e o vigário devem ter gostado da renda da brincadeira e o bode foi vistoriado por muita gente. Ele era mesmo. Além da barba, do chifre, do mau cheiro, ele tinha mesmo seus documentos de masculinidade acrescidos de outros próprios da sua cabra companheira. E olhem cruzava naturalmente.
Contos de Paulo Motta
Livro: Memórias de um Seminarista
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