quinta-feira, 3 de abril de 2014

UMA LITURGIA DE “CARA NOVA”



 
Numa Igreja, assim, de “cara nova”, tinha de nascer também uma liturgia de “cara nova”:
. uma liturgia “caseira”, doméstica; mais espontânea e familiar, viva e criativa;
. uma liturgia assumida pelos leigos e leigas;
. uma liturgia ligada com a vida, expressão da caminhada do povo, fonte de onde brota e esperança e a fé para continuar a luta pela libertação e pela cidadania:
É a celebração dos acontecimentos bonitos da vida, sinais da graça de Deus no meio de nós: nascimentos, aniversários, bodas de prata, recuperação de doença [...]. É a celebração de solidariedade e conforto, nos momentos duros e difíceis: doenças, mortes, desemprego [...] É a celebração da resistência e esperança, quando a comunidade se sente desafiada na sua tarefa profético-transformadora e enfrenta, concretamente, as forças da dominação e opressão: nos despejos, nas lutas de bairro, nas perseguições políticas, nas lutas sindicais;
. uma liturgia que expressa o conflito social que marca dolorosamente a vida do pobre, vítima das injustiças, vítima da cobiça e da violência dos grandes;
. uma liturgia que celebra Jesus Cristo a partir da vida; que festeja e agradece a Deus e ao Cristo Libertador pelas conquistas do povo, pequenos sinais da chegada do Reino entre nós;
. uma liturgia de compromisso com Deus na comunidade, para a construção de uma sociedade justa e fraterna;
. uma liturgia popular que assume a cultura do povo: o modo de falar, de pensar, de enfeitar, de rezar, de cantar, de tocar, de adorar...;
. uma liturgia atenta à advertência dos profetas que, em nome de Deus, rejeitam liturgias alienadas:
Vejam também: Isaías 58; Miquéias 6,6-8; Eclesiástico 34,18-22.
As comunidades gostam de celebrar. Celebram e rezam muito... Qualquer tipo de acontecimento se torna uma ocasião para reunir o povo e rezar: as festas da liturgia oficial, as festas da religiosidade popular, a Campanha da Fraternidade, o enterro de mais um mártir...
Entre essas muitas celebrações existe uma, toda especial, à qual será dedicado este livro: a celebração do domingo. A equipe de liturgia da Arquidiocese de Vitória, no Espírito Santo, constata, depois de longos anos de experiência: “ Sempre dizemos que através da celebração dominical de uma comunidade se conhece sua dinâmica, seu grau de consciência e compromisso, a intensidade de sua fé”.
Mas, afinal, por que a celebração do domingo é tão importante para uma comunidade? A seguir, vamos tentar lembrar o que significava o domingo para os primeiros cristãos e o que deve significar para nós.        

Domingo, dia do Senhor

No tempo de Jesus não existia o domingo. Só havia o sábado, que era o dia em que ninguém trabalhava. Um dia em que se realizava o mínimo de atividades. Um dia de descanso também para os escravos e os animais. Um dia dedicado ao Senhor Deus que criou todas as coisas e fez aliança com seu povo.
Em Deuteronômio 5,12-15, o descanso do sábado é também relacionado com o fim da escravidão no Egito: é um dia para lembrar e viver a libertação:
Infelizmente, com o tempo, o sábado se tornou um fardo na vida do povo. Por isso, Jesus criticou bastante a maneira como se interpretava a lei so sábado em sua época e não a respeitava, quando estava em jogo a saúde ou a vida de uma pessoa. Jesus defendeu seus discípulos que colhian espigas em dia de sábado porque estavam com fome (Mateus 12,1-8; Marcos 2,23-28; Lucas 6,1-5). Em dia de sábado, Jesus curou uma pessoa que estava com a mão atrofiada (Mateus 12,9-14; Marcos 3,1-6; Lucas 6,6-11). Curou uma pessoa que estava possessa pelo demônio (Marcos 1,21-28) e outra com braços e as pernas inchados (Lucas 14,1-6). Curou também uma mulher que havia dezoito anos andava curvada sem conseguir se levantar (Lucas 13,10-17).
Mas, fazendo assim, Jesus estava voltando ao sentido original do sábado. Por isso ele dizia: “O sábado foi feito para o homem e não o homem para o sábado.” Ou seja: o sábado deve ajudar o homem a se libertar, a festejar a libertação e a louvar o seu Deus. Jamais deve ser usado para acorrentar o ser humano e escravizá-lo de novo, em nome desse mesmo Deus.
Depois da morte de Jesus, seus discípulos, como bons judeus que eram provavelmente, durante um bom tempo continuaram a observar o sábado.Mas o dia seguinte, que era o primeiro dia da semana, aos poucos foi tornando-se para os cristãos um dia muito mais importante que o próprio sábado.

Ione Buyst

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