Quando olho para mim
não me percebo.
Tenho tanto a mania
de sentir
que me extravio às
vezes ao sair
das próprias
sensações que eu recebo.
O ar que respiro,
este licor que bebo,
Pertencem ao meu modo
de existir,
E eu nunca sei como hei
de concluir
As sensações que a
meu pesar concebo.
Nem nunca,
propriamente reparei,
Se na verdade sinto o
que sinto. Eu
serei tal qual pareço
em mim? Serei
tal qual me julgo
verdadeiramente?
Mesmo ante as
sensações sou um pouco ateu,
nem sei bem se sou eu
quem em mim sente.
Autor: Fernando
Pessoa
Livro dos Sonetos
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