Durante o almoço, do qual São Lucas só nos
revela os frutos, não apenas os olhos se encontram. “Zaqueu,
de pé diante do Senhor, disse...” (v.8) Este de pé é um detalhe precioso. O que
ele vai dizer é decisivo, brota das raízes de si, tem a solenidade de um
compromisso, a dimensão de uma promessa, o caráter de um voto; ele não quer
pronunciar sentado essa declaração, não aceita externar aqueles sentimentos,
engolindo tâmara, mordendo churrasco, mastigando pão. Este de pé diz muito. “Zaqueu,
pé diante do Senhor, disse-lhe: ‘Senhor, darei a metade dos meus bens aos
pobres. E se por acaso roubei alguém, devolverei quatro vezes mais a cada um”’
(19,8). “Se por acaso roubei alguém”... maneira delicada de São Lucas dizer que
Zaqueu era ladrão. É evidente. Naquele encontro semipúblico, Zaqueu não vai
anunciar aos quatro ventos de Jericó que tinha enriquecido à custa de roubo.
Tinha direito à honra pública, pelo menos perante os filhos, por mais desonrado
que fosse privadamente. Ainda não estava de todo convertido mas o que sentia no
íntimo era sincero. Não daria uma de teatral. “Eu sou ladrão. Eu roubei!”
Dizendo o que disse, falou o suficiente. E heroicamente resta dúvida. “Se por
acaso roubei alguém...”
Para bom entendedor, meia palavra basta. Só o fato de
aventar essa hipótese, já a excluía do rol das impossibilidades. Jesus
compreendeu o bastante, que era tudo para aquela hora. Então dirigiu-se a ele:
- Zaqueu, feliz és tu, porque hoje a salvação entrou nesta
casa (v.9).
Se Jesus afirmou: “hoje a salvação entrou nesta casa”, está
implícito que antes não estava. Zaqueu estava perdido. Dizendo o que disse,
Jesus está canonizando Zaqueu em vida, já que não se engana, não engana e não
se deixa enganar. Se percebesse alguma auto-ilusão nas palavras de Zaqueu, não
declararia que não iria entrar; que aquilo era fogo de palha, emoção
momentânea. Anos depois, São Lucas constatou: Zaqueu cumprira o que prometera
de pé.
Livro:
O Encontro
Autor:
João Mohana
Pg.
78/79
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