Por que será que o
mal vence (ou parece vencer) o bem?
Se o bem é tão bom,
porque o mal que é mau vive acuando o bem?
Se o bem causa prazer
e o mal causa dor, ansiedade, pânico, horror e morte, por que os seres humanos
não derrotam o mal com o bem?
Lembro-me de ter
lido, há muito, um texto de Bertrand Russel sobre “o mal que os bons fazem”.
Era algo intrigante e me lembro de que me assustei quando li isso pela primeira
vez. Então, alguém com as melhores intenções pode desencadear dramas e
tragédias? O inferno está mesmo cheio de boas intenções?
Quando foi que o bem
ganhou uma guerra?
Esta já é uma
pergunta insidiosa, pois quem se mete numa guerra, para lutar, tem que sangrar
e matar, e isto é o mal em sua forma mais dura. Foi assim nas cruzadas, foi
assim na inquisição, foi assim nas guerras de independência, foi assim nos
conflitos contra o nazismo e outros totalitarismos. O guerrilheiro vem com
aquele papo de Guevara, de que tem que matar sem perder a ternura; tem gente
que acha isso bonito, desde que seja ele a exercer essa “ternura” sobre outros.
Sim, tem o caso de
Gandhi, que moveu uma guerra pacífica contra o violento e opressor império
britânico, e ganhou. Isto nos dá algum alento. Mas por que será que o mal vence
(ou parece vencer), como atestam diariamente os jornais?
Cabisbaixo, sussurro
para mim mesmo: esta é uma luta desigual.
É aí a raiz do
problema. A luta entre o bem e o mal é uma luta desigual, repito. O bem não
pode, não deve, está eticamente impedido de usar as armas do mal. Se o bem usar
as armas do mal, transforma-se em
mal. Sim, há o caso da “legítima defesa”, a hora em que o
instinto de vida se sobrepõe ao instinto de morte. Isto tanto no plano pessoal
quanto nas guerras de resistência. Mas aí, o mal e o bem, de novo, se
misturaram.
E como se misturaram!
O que é o mal para
mim é o mal para você? Bem ou mal, somos todos bons e maus.
Autor: Affonso Romano
de Sant’Anna
Livro: Como Andar No
Labirinto
Pg.16/17