O
CABO DE VASSOURA
Abandonados sem serventia depois de
intenso uso ao longo das ruas próximas às moradias, encontro no meu caminhar
vários cabos de vassouras ou de rodos ao lixo destinados. Imagino que serviriam
para tantas coisas, mesmo para conserto do que se estragou.
Mas nossa civilização capitalista do
desperdício não duvida em descartar e comprar o novo, o melhor, o mais atual
que a propaganda exibe, criando a necessidade inexistente.
Assim pensando e andando resolvi dar
utilidade a um desses seres abandonados, usando-o como bengala para minha
segurança no andar. Me senti um nobre senhor, inda mais que o cabo de vassoura
era revestido de plástico verde do meu time Goiás...
Com ele fui arredando pedras do
caminho para que algum descuidado que por ali passasse nelas tropeçasse e
tirando caroços de manga jogados na calçada para evitar um escorregão perigoso
para quem distraidamente nelas pisasse, corrigindo a má educação dos que
degustando a fruta não jogasse ao lixo cascas e caroços. Mas também brinquei
com alguma plantinha em flor, dizendo-lhe do meu encanto.
Ninguém estranhou nem nada me
disseram os que por mim passaram, nem risos vi em nenhum semblante crítico
sempre presente em pessoas menos gentis e pouco educadas tão características do
nosso povo que se preocupa com a vida alheia e pouco cuidam de si mesmas. Deixei
minha promovida bengala num poste de luz à entrada do meu apartamento, não sem
primeiro lançar-lhe um olhar agradecido e comovido mesmo, dizendo-lhe que a
gente ainda ia se encontrar e juntos andar outra vez. Acho que o instrumento
compreendeu e ali ficou esperando por mim, a meu dispor. E digo, não deixarei
de cumprir a promessa feita, pois os seres devem sentir quando pessoas os tocam
com jeito e carinho.
Vocês dirão um cabo de vassoura jogado
ao lixo, lembrado num conto?... E como não, se somos humanos e servidos por
tantos outros seres, sejam eles objetos ou seres vivos como plantas ou animais.
Eles dão sentido à nossa vida pelos sentimentos que lhes comunicamos.
Paulo
Motta-2015.
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