terça-feira, 15 de dezembro de 2015

FRONDOSA MANGUEIRA


À beira do asfalto frondosa mangueira.
É teto, acolhedora em sua sombra
carregada de mangas, alvissareira
e generosa a quem se assombra
com tantos frutos oferecidos.

Com a graça de uma senhora
rica que a todos empobrecidos
acode com mais do que lhe sobra.
Muitos são os que ao tronco dela
se abraçam buscando a energia
que a árvore forte e tão bela
Transmite com tanta alegria.

Lembranças não me faltam quando
ainda criança em seus braços sentava
me escondendo ou mesmo brincando
E até dormindo e sonhando estava.
Homenagem presto a quem plantou
esta mangueira que ao sol cresceu
e frutificou com a chuva que chegou
e aqui está como marco sob o céu.
                           

Paulo Motta

  2015
                                               O CABO DE VASSOURA

            Abandonados sem serventia depois de intenso uso ao longo das ruas próximas às moradias, encontro no meu caminhar vários cabos de vassouras ou de rodos ao lixo destinados. Imagino que serviriam para tantas coisas, mesmo para conserto do que se estragou.
            Mas nossa civilização capitalista do desperdício não duvida em descartar e comprar o novo, o melhor, o mais atual que a propaganda exibe, criando a necessidade inexistente.
            Assim pensando e andando resolvi dar utilidade a um desses seres abandonados, usando-o como bengala para minha segurança no andar. Me senti um nobre senhor, inda mais que o cabo de vassoura era revestido de plástico verde do meu time Goiás...
            Com ele fui arredando pedras do caminho para que algum descuidado que por ali passasse nelas tropeçasse e tirando caroços de manga jogados na calçada para evitar um escorregão perigoso para quem distraidamente nelas pisasse, corrigindo a má educação dos que degustando a fruta não jogasse ao lixo cascas e caroços. Mas também brinquei com alguma plantinha em flor, dizendo-lhe do meu encanto.
            Ninguém estranhou nem nada me disseram os que por mim passaram, nem risos vi em nenhum semblante crítico sempre presente em pessoas menos gentis e pouco educadas tão características do nosso povo que se preocupa com a vida alheia e pouco cuidam de si mesmas. Deixei minha promovida bengala num poste de luz à entrada do meu apartamento, não sem primeiro lançar-lhe um olhar agradecido e comovido mesmo, dizendo-lhe que a gente ainda ia se encontrar e juntos andar outra vez. Acho que o instrumento compreendeu e ali ficou esperando por mim, a meu dispor. E digo, não deixarei de cumprir a promessa feita, pois os seres devem sentir quando pessoas os tocam com jeito e carinho.
            Vocês dirão um cabo de vassoura jogado ao lixo, lembrado num conto?... E como não, se somos humanos e servidos por tantos outros seres, sejam eles objetos ou seres vivos como plantas ou animais. Eles dão sentido à nossa vida pelos sentimentos que lhes comunicamos.
                                  

Paulo Motta-2015.