quinta-feira, 23 de maio de 2013

A gata adoradora

          O padre gostava de animais. Tendo ficado mais velho deixou a paróquia e seus animais e foi morar numa casa doada por amigos e ex-alunos, aos quais ele lecionava latim e instrução religiosa. Mudando-se para a casa recebeu autorização de ter uma capela numa sala maior. Ali rezara missa, fazia batizados e atendia confissões. Como diz a canção italiana: “il cane, il gato io e te”…o padre levou a Mimi (a cadela) e a linda e nívea gata angorá conhecida como Lady.
         O padre saia muito para compras e visita aos amigos e a casa ficava guardada pela Mimi e pela Lady, esta deitada sobre o altar ali passava dia e noite saindo só  para comer e fazer suas necessidades.
Seu olhar misterioso parecia dizer alguma coisa aos visitantes, olhos cheios de mistério, lindos e insistentes no olhos dos outros .
Mas a sua presença distraia as pessoas da finalidade com que entravam na capela. Não sei se o Senhor Jesus em sua vida terrena tinha amor a algum gato. O Evangelho não fala .Falou de cachorro na parábola do rico epulão e dos cachorrinhos para a Cananéia. Nem em Betânia na casa de Lázaro, Marta e Maria os evangelhos não falam porque se houvesse iria para o colo do Mestre buscar carinho. Disso é que os felinos gostam.
Na intenção do velho padre a gata fazia companhia a Jesus no sacrário. Mas o salmo diz que as delícias de Deus é estar com os filhos dos homens. Os animais não têm capacidade de oração; eles obedecem à voz da criação.
Devo reconhecer que se as flores enfeitam os altares, uma linda gata também poderia enfeitar e até mais, suponho. Mas que é estranho, lá isso é.
E a danada da bichana não abandonava seu posto nem quando o seu dono aparecia. Mas quando percebia que o altar iria ser usado se recolhia de imediato para baixo do altar. Deixo a seu critério comentar esse fato tão realista quanto inédito.



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